Política e educação do campo: os processos de formação para a vida social dos camponeses

  • Anita Helena Schlesener Universidade Tuiuti do Paraná
  • Maria de Fátima Rodrigues Pereira Universidade Tuiuti do Paraná

Resumo

Esse trabalho pretende retomar alguns aspectos da educação do campo a partir do projeto de pesquisa em andamento denominado Educação do Campo na Região Metropolitana de Curitiba: Diagnóstico, Diretrizes Curriculares e Reestruturação dos Projetos Político-Pedagógicos, com financiamento da CAPES e desenvolvido na Universidade Tuiuti do Paraná. Seu objetivo geral é analisar e avaliar a situação das escolas do campo dos 24 municípios da Região Metropolitana de Curitiba, Paraná, Brasil, tendo como base as escolas municipais localizadas no campo e os dados do INEP sobre o Censo Escolar e a Prova Brasil. O quadro teórico-metodológico que orienta esta leitura é o materialismo histórico a fim de compreender como, no conjunto das relações de forças que constituem o tecido social, se configuram os grupos sociais em presença. Para as classes trabalhadoras a escola possibilita o acesso aos mecanismos que viabilizam a formação inicial, dentro dos limites de uma instituição que tem a função de adaptar aos objetivos do modo de produção e de dominação capitalista. Para os camponeses, na grande variedade que caracteriza a realidade brasileira (indígenas, quilombolas e de origem europeia), a estrutura curricular e a organização do conhecimento transmitido na escola precisa valorizar as vida na terra, a cultura e a identidade sociocultural dos povos do campo. A Educação do Campo nasceu no movimento de luta pela terra, cujos participantes perceberam o vazio educacional e a importância de uma formação efetiva desses trabalhadores no curso da história pelas instituições públicas, respeitando os ciclos temporais da produção agrícola, os vínculos sociais e os interesses desses grupos, de seus vínculos culturais e políticos, principalmente a sua unificação em torno da reforma agrária e de um projeto popular. Dentro dessa perspectiva, busca-se refletir sobre os procedimentos para superar os limites da formação escolar no contexto das relações de hegemonia, para abrir a possibilidade de a escola mostrar a dimensão política da educação na prática cotidiana dos trabalhadores, a fim de desvelar as possibilidades de um novo pensamento presente na sua prática e na sua vida social.

Biografia do Autor

Anita Helena Schlesener, Universidade Tuiuti do Paraná
Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (1975), mestrado em Educação: História, Política, Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1983) e doutorado em História pela Universidade Federal do Paraná (2001), com um ano de pesquisa na Università degli Studi di Milano e Fondazione Feltrinelli. Desde a década de 80 dedica-se ao estudo dos escritos de Antonio Gramsci. Paralelamente tem pesquisado, desde 1992, a filosofia de Walter Benjamin. Recebeu o Prêmio Jabuti em 2001. Docente de Filosofia da UFPR de 1976 a 2005, nas disciplinas de Filosofia Política e Estética. Atualmente é professora da Universidade Tuiuti do Paraná, atuando junto ao Mestrado e Doutorado em Educação. Membro do NESEF - Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre o Ensino da Filosofia - UFPR. Membro do Conselho Nacional da International Gramsci Society - IGS-Brasil. Membro dos Conselhos Editoriais das Revistas: Critica Marxista e Germinal.Membro do Conselho Editorial da Editora Mercado de Letras. Tem experiência na área de Filosofia, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, filosofia, filosofia política, Gramsci e Walter Benjamin. Coordenadora do Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Educação da UTP (Gestão 2017-2019)
Maria de Fátima Rodrigues Pereira, Universidade Tuiuti do Paraná
Possui graduação em História pela Universidade de Coimbra (1976), mestrado em Metodologia de Educação pela Universidade Estadual do Centro-Oeste/ Unicamp (1999) e doutorado em Filosofia e História da Educação pela Universidade Estadual de Campinas (2007). Atualmente é professora adjunta do Programa de Mestrado e Doutorado em Educação, da Universidade Tuiuti do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em História da Educação, Pesquisa Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: formação de professores, politicas educacionais, trabalho e educação. Coordena o Grupo de Estudos e Pesquisa Trabalho, Educação e Políticas Educacionais. Participa do Fórum em Defesa da Formação de Professores no Estado do Paraná como representante da Anfope.

Referências

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comentários) http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/
censoagro/brasil_2006/comentarios.pdf, consultado em 21/11/2014.
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(3a
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VENDRAMINI, Celia Regina. Educação e trabalho: reflexões em torno dos
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pp. 121-135.
Publicado
2017-05-13
Como Citar
SCHLESENER, A.; PEREIRA, M. DE F. Política e educação do campo: os processos de formação para a vida social dos camponeses. CADERNOS DE PESQUISA: PENSAMENTO EDUCACIONAL, v. 10, n. 26, p. 365-379, 13 maio 2017.